1.
O QUE CARACTERIZA UMA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL?
O
que caracteriza o que chamamos uma revolução industrial é o
aparecimento de novas tecnologias – principalmente nas áreas de
energia, comunicação e transporte – que provocam uma transformação
profunda no modo de vida da humanidade. Podemos verificar esse
fenômeno na história sobre a primeira revolução industrial, que
começou com a utilização do carvão como energia, que impulsionou
a máquina a vapor, o transporte e a imprensa mecanizada. Então, é
comum ter o conceito de que aconteceu uma Revolução Industrial,
porque mudou o modo de vida das pessoas. Esse desenvolvimento atinge
não somente as indústrias, mas a sociedade como um todo e traz um
desenvolvimento na maneira de ver o mundo, na economia e na maneira
de viver da sociedade.
2
– COMO PERCEBEMOS AS ETAPAS DE REVOLUÇÃO INDUSTRIAL?
Percebemos
etapas bem definidas de revoluções industriais através de estudos
do sistema produtivo, que afetam a área social e política e podemos
caracterizá-las como:
a)-
A primeira revolução
industrial, marcada
pelo uso do carvão que substituiu a lenha como energia e que
proporcionou a máquina a vapor, por volta de 1860. Esse novo meio de
energia fomentou o transporte com trem, a mecanização da imprensa,
da produção têxtil e da produção mecanizada.
Com isso, o novo ponto de
encontro da comunidade se tornou a fábrica, surgindo uma nova classe
média formada pelos operários. As cidades começaram a crescer
rapidamente e as economias a se desenvolverem.
b)-
A segunda Revolução
industrial foi marcada
novamente com a mudança de energia que foi o
uso do Petróleo no início do século XX. Nesse momento apareceu o
motor a gasolina proporcionando novos tipos de transporte, como o
carro e o avião. Também surgiu o telefone como novo meio de
comunicação.
As ciências provocaram grandes
descobertas e novos métodos e princípios científicos como por
exemplo: observar, medir e desenvolver novas técnicas que passaram a
ser implantadas nas fabricas recém construídas. Começaram a se
desenvolver linhas de montagens para produção em massa. O exemplo
mais expressivo foi a produção do FORD modelo T, implantado por
Henry Ford em 19081.
Começou também um deslocamento da população para os grandes
centros onde as oportunidades eram maiores. Com essas descobertas da
segunda revolução surgiram as estradas pavimentadas na maior parte
no mundo.
c)-
A terceira Revolução
industrial
se caracterizou pela revolução digital, que começou em torno de
1950 com as pesquisas na área de microeletrônica. Como exemplo,
começou o desenvolvimento da mudança de transmissão da TV do
sistema analógico para o sistema digital. Começou o fenômeno de
“Transformação Digital” no qual as empresas e quem trabalha com
informação buscam a melhoria de processos operacionais e a criação
de novos negócios através de uma tecnologia nova.
d)-
A quarta revolução
industrial teve início
neste século XXI e se caracteriza pela implantação de inovações
tecnológicas já desenvolvidas e a se desenvolver. A incorporação
dessas tecnologias vai mudar o mundo assim como o conhecemos no
âmbito das indústrias, mas também
no econômico, social e político. Essa etapa se caracteriza pela
conexão, pela convergência e sinergia entre as tecnologias. Está
acontecendo uma ligação entre o mundo digital e o mundo real das
coisas, o que quer dizer que as tecnologias estão saindo do mundo
teórico e se efetivando no mundo real2.
Quando
essas tecnologias entram no mundo prático é que acontecem as
mudanças. Podemos citar como exemplo as máquinas a vapor que
enquanto estavam nos laboratórios das Universidades tinham pouco
efeito, mas quando elas começaram a movimentar os trens, as máquinas
de imprensa e as máquinas têxteis causaram um impacto muito grande
na época.
Novamente
temos uma nova plataforma tecnológica de energia sustentável, de
logística com um novo tipo de mobilidade, e de um novo tipo de
comunicação que é a internet. Para entendermos como essa
plataforma tecnológica tem um potencial enorme de mudança, podemos
citar que num futuro próximo teremos milhões de casas gerando
eletricidade com células fotovoltaicas em seus telhados. Essas
casas, com microgeração de energia, precisam estar conectadas a uma
rede inteligente (internet das coisas) para distribuir a energia que
sobra e receber quando é necessário. Isso é feito em uma dimensão
continental como é o caso da Europa inteira, a qual já está se
planejando para funcionar em rede. O que dizemos é que, uma nova
consciência nasce deste fato: o conceito de que somos ligados a uma
grande rede e que cada um de nós constitui um de seus nós. No caso
da energia é necessário o compartilhamento com todos para que o
sistema funcione, ou seja, usar apenas o necessário e o excedente é
compartilhado na rede, para que seja distribuído. Então estamos
compreendendo que fazemos parte da Biosfera ou somos parte de um todo
maior, e essa é a grande inovação que acontecerá no âmbito
econômico, social e político.
Outro
exemplo que podemos citar dessa nova etapa de evolução é o serviço
de compartilhamento de carros, que funciona com o uso de múltiplas
tecnologias. O exemplo citado usa o transporte em si, mas combinado
com outros desenvolvimentos que precisam funcionar integrados como: a
tecnologia de informação, localização com GPS, seguros, serviços
financeiros de cobrança e outros. E funciona porque a tecnologia
permite ao usuário fazer um pedido de “carona” com smartphone,
rastrear o carro onde ele está, tipo de veículo, preço da corrida,
pagar o transporte com cartão de crédito, informações sobre o
motorista e ainda fazer uma avaliação do serviço. Este é um
processo em que você tem mobilidade por compartilhamento e não é
proprietário do veículo. Outros exemplos como o uso compartilhado
de brinquedos de criança, onde você aluga um brinquedo para uma
determinada faixa etária, e depois devolve. Por exemplo se alugo um
brinquedo para uma criança de 3 a 5 anos e quando ela perde o
interesse, alugo outro para idade adequada. Então esse brinquedo é
compartilhado para muitas crianças. Esse novo modelo de negócio vai
trazer um novo conceito sobre a propriedade de um brinquedo, carro ou
outro bem qualquer. E deve nascer uma nova cultura, por exemplo no
caso do brinquedo onde hoje os pais dizem para os filhos: “você
está ganhando este brinquedo, ele é seu e você tem que cuidar
dele”. No caso do novo conceito o pai vai dizer: “este brinquedo
é para você brincar e precisa tomar cuidado com ele, porque outras
crianças vão brincar depois que você não tiver mais interesse”.
Um
desenvolvimento dessa nova onda é o compartilhamento de dados que se
está fazendo de forma exponencial como informações, vídeos, redes
sociais, sensores e temos uma lista enorme de aplicações. Quanto
maior o número de dados maior vai ser a eficiência do que chamamos
de “inteligência artificial”, porque ela usa esses dados para
atingir seus objetivos. E as novas linhas de tecnologias de energia
baratas e sustentáveis vão libertar a nossa sociedade da
dependência do petróleo como acontece na atualidade. E
principalmente o conceito de compartilhamento vai ser a nova onda da
revolução que se iniciou neste começo do século XXI.
3.
– QUAL A RELAÇÃO ENTRE ECONOMIA DE COMUNHÃO E A NOVA REVOLUÇÃO
INDUSTRIAL?
A
Economia de Comunhão desperta a consciência do novo modelo
organizacional para quase todas as atividades econômicas e sociais
que estão se desenvolvendo, especialmente da natureza distribuída e
colaborativa das fontes de energia renovável. A nova forma de fazer
negócios vai se transferir do conceito de mercado independente para
redes. E isso muda o relacionamento entre vendedores e compradores
que se consideram adversários, como se vê em muitos casos hoje,
para uma relação colaborativa entre fornecedores e usuários dos
bens produzidos; e interesses individuais para partilhados, como é o
caso da energia solar, que para funcionar deve estar em rede e
partilhado.
O
foco do capitalismo está na busca de bens materiais próprios para
atingir a independência e a autonomia, para ter qualidade de vida. A
nova visão do futuro para qualidade de vida está baseada na
colaboração, na conectividade e na interdependência. Está
nascendo a consciência de que a verdadeira felicidade não está na
independência dos outros e no acúmulo de bens, mas na participação
e na partilha, e a verdadeira riqueza está na participação e
vínculos sociais.
O
propósito da Economia de Comunhão é que todos tenham participação
ativa na sociedade sem deixar ninguém para trás. Também reconhece
que o conforto, que o valor econômico traz é bom e necessário, mas
deve estar em equilíbrio com os valores da vida3.
4
– MAS QUAL É A DIFERENÇA?
A
diferença que a nova revolução está mostrando é que os seres
humanos são seres sociais, o que significa que está desenvolvendo a
consciência de que não somos ilhas isoladas, mas vivemos e estamos
com os outros. Isso traz qualidade de vida porque quando participamos
de um grupo social, ele ajuda a nos proteger, sobreviver e prover com
mais segurança a nossa subsistência.
A
diferença que a Economia de Comunhão traz é a concepção de que
somos mais do que seres sociais e a proposta é formar uma
comunidade. O social nos mantém unidos pautados em regras aceitas
por todos, como é o caso da constituição de uma nação no regime
democrático. O comunitário sustenta as pessoas unidas em torno de
valores como respeito, doação, solidariedade, serviço dentre
outros; abre o horizonte das pessoas para terem em comum os valores.
A
consciência que nos leva a viver em sociedade vem do instinto
gregário4
ou seja de vivermos juntos, mas é a natureza espiritual que nos leva
a viver em comum unidade. Esta é a diferença e o propósito da
Economia de Comunhão: despertar a consciência de que além da
convivência social devemos viver em comunidade.
5
– UM SONHO VIVIDO
Há
uma profecia Bíblica que diz que vai haver uma transformação
social e surgirá “um novo Céu e uma nova Terra”5.
Entendi que o novo Céu não é um sonho, mas uma realidade vivida
interiormente e a nova Terra é a manifestação exterior dessa
realidade, mas que vem sempre de uma realidade interior. Então, a
grande revolução econômica, social e política que a nova
tecnologia irá trazer só irá melhorar a qualidade de vida se for
acompanhada de um despertar de uma consciência pessoal e coletiva.
Na nossa experiência de Economia de Comunhão o que realizamos muda
com o momento da história (uma nova Terra), mas a consciência que
nos levou a fazer a experiência (um novo Céu) deve sempre continuar
viva e inspirando, a cada momento, a ação a ser feita.
1
A data do modelo Ford T foi 1 de outubro de 1908
2
Aqui estamos nos referindo a aplicação da inteligência
artificial.
3
No Movimento da Economia de Comunhão chamamos de “bens
relacionais”
4
Instinto gregário é o instinto que nos leva a viver juntos.
5 Apocalipse 21:1 e Isaias 65:17
Autor: Rodolfo Leibholz:
Sobre o autor: Foi presidente da Espri no período de 2001 a 2007. Cofundador do Polo Spartaco. Formado em Engenharia Mecânica e Mestre em engenharia de materiais pela Unicamp. Empresário por 50 anos e agora consultor e pesquisador de projeto de inovação no ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica, na área de materiais de veículos. E-mail: rleibholz48@gmail.com.